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sábado, 4 de maio de 2013
120 dias de Sodoma: Um dos filmes mais polêmicos da história..
Por:Francisco Serena
O ser humano é um bicho complexo, quiçá o mais complexo de
todos. A arte sempre se pôs a investigar com profundidade os meandros do
comportamento humano, tão difícil de descrever e entender quanto sua própria
natureza. Possuímos códigos em comum, como a moral e aética, espécie de
legislação não escrita, série de comportamentos que se fazem necessários, ainda
mais quando há contextualização do homem como animal social, que divide espaço
com outros de sua espécie. Nossa intimidade é cada vez menor, nosso espaço
particular é reduzido em prol da construção de algo maior, desta teia chamada
sociedade. Os grandes filmes são aqueles que tentam dar conta desta variedade
de comportamentos, que não nos deixam facilmente classificáveis, inteiramente
justificáveis e muito menos totalmente compreensíveis.
Pier
Paolo Pasolini, cineasta italiano controverso, parece querer com Saló ou Os 120
dias de Sodoma expandir a individualidade, nem que para isso precise aflorar
perversões e experiências masoquistas, nesta busca de libertação. Libertação
esta que vem, é bom dizer, não somente aos que torturam. Sob um olhar mais
superficial, pode parecer uma ode a violência, ao lado mais perverso da alma
humana, afinal de contas não é sempre que vemos sodomizações,pessoasse
alimentando de fezes, outros sendo obrigados a ingerir alimentos cheios de
pregos ou mesmo forçados a urinar em seus algozes para que estes alcancem o
êxtase. O prazer, aliás, é o conduto pelo qual os personagens parecem chegar a
uma espécie primitiva de virtude libertária.
Ainda
que Saló ou Os 120 dias de Sodoma seja um filme muito mais para ser sentido do
que racionalizado, há de se entender que Pasolini, fiel a seus ideais e às
batalhas que travava diariamente contra o preconceito e osistema, ataca os
poderes instituídos como responsáveis por disseminar ainda mais as ideias que
fazem da sociedade esta coisa predominantemente vazia. Os torturadores
principais são representantes destes poderes que criam as regras, e suas
presenças nada mais são do que a tentativa de Pasolini de mostrar o que eles
fazem conosco, utilizando para isto a metáfora extrema que carrega o filme.
Creio
que muitos não chegariam nem a metade caso se propusessem assistir Saló ou Os
120 dias de Sodoma, não tanto pela violência gráfica da imagem que oprime quem
assiste, ora causando náuseas, ora despertando incomodamente uma pulsão sexual
incivilizada, mas pelo clima, pela maneira brutal como a forma entra em
simbiose com a fábula. Aberração, quimera cinematográfica, Saló ou Os 120 dias
de Sodoma é uma obra de extremidades que, paradoxalmente, evoca o poder da
palavra, sobrepondo ele ao da imagem, já que mesmo com mulheres e homens nus a
sua disposição, as pessoas só se excitam de verdade ao ouvirem relatos,
imaginando situações para depois pô-lasem prática. Aliás, em todofilmeé
sintomático este relevo da palavra.
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