SÃO LOURENÇO DA MATA - A Arena Pernambuco colocou São Lourenço da
Mata no mapa. Com cerca de 100 mil habitantes, a 20 quilômetros de Recife, era
pouco conhecida fora do estado, mas, neste mês, é sede de partidas de Copa do
Mundo. Só que tirar o município do anonimato parece ter sido o único feito do
estádio inaugurado em 2013 para a população que mora, trabalha, vende, compra e
se locomove pelas ruas da cidade. Nenhuma das dez pessoas entrevistadas pela
reportagem soube dizer em que aspecto a vida delas melhorou por causa da
novidade.
Em alguns casos, até piorou. Segundo Aline, que trabalha em
uma papelaria em uma das ruas mais movimentadas de São Lourenço, houve uma
valorização imobiliária. O aluguel aumentou junto com o custo de vida da
cidade. “O aluguel que era de R$ 200, R$ 300 subiu para R$ 500. O de R$ 700,
para R$ 1200. Melhorou apenas para o governo”, critica. O comerciante Paulo
Roberto, de 34 anos, também identificou um aumento no preço dos aluguéis e,
além disso, não gosta dos feriados em dias de jogo porque eles diminuem o movimento
das lojas.
“Na duplicação da BR (estrada que une Recife ao Estádio),
aumentou o comércio, os trabalhadores vieram morar aqui, mas no estádio não.
Essa arena trouxe apenas um elevado preço do aluguel”, afirma. Risonete, 57
anos, não é tão crítica ao estádio assim. Disse que aumentou a quantidade de
gente passando pela cidade. Mas isso ajudou os comerciantes a venderam mais,
terem mais lucro? “Não, isso não”, respondeu.
E não é que São Lourenço da Mata não tenha problemas mais
urgentes do que a construção de um estádio para 40 mil pessoas. Os gargalos
mais lembrados são a nova dupla dinâmica do Brasil, mais mencionada ultimamente
que Pelé e Coutinho, Bebeto e Romário, Washington e Assis, caipirinha e
feijoada: saúde e educação. Principalmente a última. “Não dá para fazer exame
de fezes, de urina. Custa R$ 4, R$ 12. Não é muito. O governo poderia fazer.
Tem que esperar estar morrendo para fazer”, conta Carine, funcionária de uma
clínica médica. “Chega ao hospital, não tem um pediatra”, continua Aline.
Os problemas urbanos não param por aí. O excesso de lixo nas
ruas e a falta de um saneamento básico, com esgotos a céu aberto, preocupam
Carlos Alberto, de 22 anos. “Parece que a administração (pública) preocupou-se
mais com o estádio do que com o resto da cidade”, diz. “O trânsito é terrível”,
acrescenta Paulo Roberto. “Falta mais rigor com os taxistas e motoqueiros. Não
conseguimos estacionar porque tem muito táxi”. E eles não querem só comida.
Querem comida, diversão e arte. “Não tem uma área de lazer, não tem um parque.
Chega o fim de semana, não tem para onde ir”, reclama Risonete, nascida e
criada em São Lourenço, mas que mora no Recife há quatro anos e trabalha na
cidade da região metropolitana.
A Arena Pernambuco será do Náutico pelos próximos 30 anos.
Embora nenhum torcedor do clube tenha sido entrevistado, todos confirmaram que
há muitos alvirrubros morando na cidade. Mas nem o clube está dando atenção a
eles. Não houve um plano de marketing para cativar o torcedor local e motivá-lo
a ir ao estádio. “Até porque tem mais torcedor do Santa Cruz”, conta Joshua, de
18 anos, fã do Sport. “É uma cidade esquecida”, lamenta o moto-taxista Márcio
Vieira, de 22 anos.
À frente de uma banca de frutas, Irmão Daniel, de 53 anos, é
taxativo: “não melhorou nada”. E ele gostaria que o dinheiro utilizado na
construção do estádio fosse usado na construção de casas, uma para cada
morador, se possível, e na erradicação da pobreza. “Se o povo gosta tanto de
bola, compra uma bola para cada um”, sugere, antes de abandonar a conversa e
entrar na tenda que protege suas frutas da incessante chuva de Pernambuco,
ainda dissertando sobre inúmeras formas melhores de gastar dinheiro em São
Lourenço da Mata do que com um campo de futebol.
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