Demétrio Rocha
Pereira
Fica fácil pôr
ordem no caos depois do ato consumado: Robin Williams tirou a própria vida porque sofria, como o brasileiro Fausto Fanti, do mal dos comediantes
aflitos, gente que ri e faz rir não por ser feliz, mas por extrair comédia
do que na vida é trágico. O risco de dedicar um mesmo
saco para depressões particulares é o de se pegar, por ato falho,
falando em Robin Fanti e Fausto Williams, meros exemplares de uma categoria.
– O tema da
dor psíquica e a sua manifestação extrema, o suicídio, é muito sério e
complexo. Não pode ser pensado de forma uniforme, sob pena de o glamourizarmos.
O suicídio é expressão de intensa dor psíquica, e a depressão deve ser olhada
com muita cautela, porque fala da singularidade de cada pessoa no enfrentamento
das dificuldades da vida – observa a psicanalista Mônica Macedo,
professora da Faculdade de Psicologia da PUCRS.
Tanto o ator que
animou as fanfarras de Patch Adams quanto o gênio-fundador de
Hermes & Renato fizeram fama com o humor e sofriam de depressão quando
optaram pelo suicídio. Além daí, as semelhanças empacam, e dar sentido igual aos dois casos é tão tacanho
quanto comparar a psicologia de Getúlio Vargas com a de Kurt Cobain. A confusão
e o tabu em torno do suicídio favorecem a expectativa por um receituário:
– As pessoas
se chocam e tentam interpretar rapidamente o suicídio porque ele desperta
angústia. Vivemos em uma época em que todos devem estar felizes. Quando o
suicídio aparece como fato público, é como se fôssemos confrontados com a
tristeza, o sofrimento, a insatisfação – diz Monica.
Em coluna recente na Folha de S.Paulo, o psicanalista Contardo
Caligaris defende a ideia de que a expressão corporal é causadora dos afetos, e
não o contrário. Primeiro vem o riso, depois a alegria. Caligaris se apoia em
uma pesquisa publicada em maio por dois médicos
americanos que tratam a depressão enxertando botox nos pacientes.
Incapazes de mexer os músculos do rosto triste, os depressivos não veriam outra
saída senão a da alegria. Mas logo se vê que um semblante contente não era
bem o que faltava a Robin Williams.
Entre os sintomas
da depressão, alerta a professora Mônica, estão o desinteresse, a falta de
projetos e de criatividade. E, como a tristeza é um sentimento condizente
com diversas situações da vida, vetá-la pode ser um primeiro passo rumo à
apatia.
– Sem poder
expressar tristeza, a pessoa encontra formas de se anestesiar diante da dor,
entre elas o consumo de drogas e de álcool. Mostrar-se feliz enquanto se sente
infeliz é como viver duas vidas – afirma Mônica.
Leia também:
Suicídio: conversa para quebrar tabu
Contra a banalização
Um estudo publicado no Journal of Phenomenological Psychology, em 2009, sugeria que a riqueza e a “imortalidade simbólica” da celebridade vêm ao preço do isolamento, da desconfiança em relação aos outros e da crise de identidade. Seriam os casos de Marilyn Monroe e Michael Jackson. Já a explicação de que os criativos roçam as raias da loucura vem justificando as depressões de Catherine Zeta-Jones e de Mel Gibson.
Suicídio: conversa para quebrar tabu
Contra a banalização
Um estudo publicado no Journal of Phenomenological Psychology, em 2009, sugeria que a riqueza e a “imortalidade simbólica” da celebridade vêm ao preço do isolamento, da desconfiança em relação aos outros e da crise de identidade. Seriam os casos de Marilyn Monroe e Michael Jackson. Já a explicação de que os criativos roçam as raias da loucura vem justificando as depressões de Catherine Zeta-Jones e de Mel Gibson.
– Isso é
misturar alhos com bugalhos. Debaixo desse ato final podem estar embutidas
situações muito distintas. Generalizações de primeira hora buscam, no meu modo
de ver, aplacar angústias pessoais, tranquilizar a pessoa que generaliza. Mesmo
para nós, que estudamos o comportamento, é difícil lidar com uma situação tão
extremada. É um fato penoso e complexo – ressalta o psiquiatra Miguel
Jorge, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acrescentando
que, no caso de Robin Williams, é preciso levar em conta o histórico de consumo
de cocaína e álcool, bem como indícios de transtorno bipolar.
Observando que o
suicídio é estudado não apenas por profissionais da saúde mental, como também
por antropólogos e sociólogos, Miguel sustenta que “não generalizar é uma regra
absolutamente preconizada, senão reduzimos a nossa capacidade de compreender o
que acontece com cada grupo de pessoas”.
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) contabiliza 350 milhões de
pessoas que sofrem de depressão em todo o mundo e afirma que
90% dos suicídios poderiam ser evitados com trabalho preventivo.
– É importante
divulgar que as pessoas não precisam esperar chegar em uma situação extrema.
Devem buscar ajuda toda vez que, sozinhas, não conseguirem dar rumo para
conflitos que estão atrapalhando a sua vida. E isso passa por não banalizar a
dor psíquica – completa Mônica.
SINTONIZANDO O LEITOR:
Suicídio é o ato de
tirar a própria vida intencionalmente. O comportamento suicida trata-se de
qualquer ação que possa levar uma pessoa a morrer por meio de um acidente de um
carro intencional ou uma overdose de drogas.
As pessoas que
cometem suicídio normalmente estão tentando fugir de uma situação da vida que
lhes parece impossível de enfrentar. Muitas pessoas que tentam suicídio estão buscando
alívio por:
-Sentirem-se
envergonhadas, culpadas ou por serem um peso para os demais
-Sentirem-se vítimas
-Sentimentos de
rejeição, perda ou solidão
Os comportamentos
suicidas podem ser causados por uma situação ou acontecimento que a pessoa
encara como devastadora, por exemplo:
-Envelhecimento (os
idosos têm a maior taxa de suicídios)
-A morte de uma
pessoa querida
-Dependência de
drogas ou álcool
-Trauma emocional
-Doença física grave
-Desemprego ou
problemas financeiros
A maioria das tentativas de suicídio não resulta em morte.
Muitas dessas tentativas são feitas de
forma que o resgate seja possível. As tentativas
normalmente são pedidos de ajuda.Os parentes de pessoas que tentam ou cometem suicídio, muitas vezes, se culpam
ou ficam furiosos. Eles podem ver a tentativa de suicídio como egoísta. No
entanto, as pessoas que tentam cometer suicídio em geral acreditam erroneamente
que, ao deixar o mundo, estão fazendo um favor a seus amigos e parentes.Saiba mais: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/suicidio
Nenhum comentário:
Postar um comentário