terça-feira, 12 de agosto de 2014

Explicação rápida para suicídios é banalizar a depressão, dizem psicólogos


Demétrio Rocha Pereira
Fica fácil pôr ordem no caos depois do ato consumado: Robin Williams tirou a própria vida porque sofria, como o brasileiro Fausto Fanti, do mal dos comediantes aflitos, gente que ri e faz rir não por ser feliz, mas por extrair comédia do que na vida é trágico. O risco de dedicar um mesmo saco para depressões particulares é o de se pegar, por ato falho, falando em Robin Fanti e Fausto Williams, meros exemplares de uma categoria.
– O tema da dor psíquica e a sua manifestação extrema, o suicídio, é muito sério e complexo. Não pode ser pensado de forma uniforme, sob pena de o glamourizarmos. O suicídio é expressão de intensa dor psíquica, e a depressão deve ser olhada com muita cautela, porque fala da singularidade de cada pessoa no enfrentamento das dificuldades da vida – observa a psicanalista Mônica Macedo, professora da Faculdade de Psicologia da PUCRS.
Tanto o ator que animou as fanfarras de Patch Adams quanto o gênio-fundador de Hermes & Renato fizeram fama com o humor e sofriam de depressão quando optaram pelo suicídio. Além daí, as semelhanças empacam, e dar sentido igual aos dois casos é tão tacanho quanto comparar a psicologia de Getúlio Vargas com a de Kurt Cobain. A confusão e o tabu em torno do suicídio favorecem a expectativa por um receituário:
– As pessoas se chocam e tentam interpretar rapidamente o suicídio porque ele desperta angústia. Vivemos em uma época em que todos devem estar felizes. Quando o suicídio aparece como fato público, é como se fôssemos confrontados com a tristeza, o sofrimento, a insatisfação – diz Monica.
Em coluna recente na Folha de S.Paulo, o psicanalista Contardo Caligaris defende a ideia de que a expressão corporal é causadora dos afetos, e não o contrário. Primeiro vem o riso, depois a alegria. Caligaris se apoia em uma pesquisa publicada em maio por dois médicos americanos que tratam a depressão enxertando botox nos pacientes. Incapazes de mexer os músculos do rosto triste, os depressivos não veriam outra saída senão a da alegria. Mas logo se vê que um semblante contente não era bem o que faltava a Robin Williams.
Entre os sintomas da depressão, alerta a professora Mônica, estão o desinteresse, a falta de projetos e de criatividade. E, como a tristeza é um sentimento condizente com diversas situações da vida, vetá-la pode ser um primeiro passo rumo à apatia.
– Sem poder expressar tristeza, a pessoa encontra formas de se anestesiar diante da dor, entre elas o consumo de drogas e de álcool. Mostrar-se feliz enquanto se sente infeliz é como viver duas vidas – afirma Mônica.
Leia também:
Suicídio: conversa para quebrar tabu

Contra a banalização

Um estudo publicado no Journal of Phenomenological Psychology, em 2009, sugeria que a riqueza e a “imortalidade simbólica” da celebridade vêm ao preço do isolamento, da desconfiança em relação aos outros e da crise de identidade. Seriam os casos de Marilyn Monroe e Michael Jackson. Já a explicação de que os criativos roçam as raias da loucura vem justificando as depressões de Catherine Zeta-Jones e de Mel Gibson.
– Isso é misturar alhos com bugalhos. Debaixo desse ato final podem estar embutidas situações muito distintas. Generalizações de primeira hora buscam, no meu modo de ver, aplacar angústias pessoais, tranquilizar a pessoa que generaliza. Mesmo para nós, que estudamos o comportamento, é difícil lidar com uma situação tão extremada. É um fato penoso e complexo – ressalta o psiquiatra Miguel Jorge, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acrescentando que, no caso de Robin Williams, é preciso levar em conta o histórico de consumo de cocaína e álcool, bem como indícios de transtorno bipolar.
Observando que o suicídio é estudado não apenas por profissionais da saúde mental, como também por antropólogos e sociólogos, Miguel sustenta que “não generalizar é uma regra absolutamente preconizada, senão reduzimos a nossa capacidade de compreender o que acontece com cada grupo de pessoas”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza 350 milhões de pessoas que sofrem de depressão em todo o mundo e afirma que 90% dos suicídios poderiam ser evitados com trabalho preventivo.
– É importante divulgar que as pessoas não precisam esperar chegar em uma situação extrema. Devem buscar ajuda toda vez que, sozinhas, não conseguirem dar rumo para conflitos que estão atrapalhando a sua vida. E isso passa por não banalizar a dor psíquica – completa Mônica.

SINTONIZANDO O LEITOR:
Suicídio é o ato de tirar a própria vida intencionalmente. O comportamento suicida trata-se de qualquer ação que possa levar uma pessoa a morrer por meio de um acidente de um carro intencional ou uma overdose de drogas.
As pessoas que cometem suicídio normalmente estão tentando fugir de uma situação da vida que lhes parece impossível de enfrentar. Muitas pessoas que tentam suicídio estão buscando alívio por:
-Sentirem-se envergonhadas, culpadas ou por serem um peso para os demais
-Sentirem-se vítimas
-Sentimentos de rejeição, perda ou solidão
Os comportamentos suicidas podem ser causados por uma situação ou acontecimento que a pessoa encara como devastadora, por exemplo:
-Envelhecimento (os idosos têm a maior taxa de suicídios)
-A morte de uma pessoa querida
-Dependência de drogas ou álcool
-Trauma emocional
-Doença física grave
-Desemprego ou problemas financeiros
A maioria das tentativas de suicídio não resulta em morte. Muitas dessas tentativas são feitas de forma que o resgate seja possível. As tentativas normalmente são pedidos de ajuda.Os parentes de pessoas que tentam ou cometem suicídio, muitas vezes, se culpam ou ficam furiosos. Eles podem ver a tentativa de suicídio como egoísta. No entanto, as pessoas que tentam cometer suicídio em geral acreditam erroneamente que, ao deixar o mundo, estão fazendo um favor a seus amigos e parentes.Saiba mais: http://www.minhavida.com.br/saude/temas/suicidio

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