Celso de Campos Jr., do Recife
Arena Pernambuco, a 'Área 51' do Recife: longe da órbita normal do morador da cidade
(Celso de Campos Jr.)
A imagem de milhares de torcedores deixando as dependências da nova
arena na metade do segundo tempo de um clássico do futebol internacional
para tentar – em vão, como se viu depois – evitar as aglomerações foi
tão impressionante quanto sintomática
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A imagem de milhares de torcedores deixando as dependências da nova arena na metade do segundo tempo de um clássico do futebol internacional para tentar – em vão, como se viu depois – evitar as aglomerações foi tão impressionante quanto sintomática. Nesta segunda, o secretário extraordinário da Copa no Recife, Ricardo Leitão, empurrou para a Fifa, que determinou o fechamento do estacionamento do estádio, e para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos, responsável pela operação do metrô, as dificuldades de mobilidade enfrentadas pelos torcedores. E confirmou que, para evitar atropelos semelhantes na partida desta quarta-feira, entre Itália e Japão, o governo de Pernambuco estuda decretar feriado no estado – uma assinatura definitiva no atestado de incompetência dos organizadores, incapazes de promover normalmente uma simples partida de futebol marcada há meses.
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De qualquer forma, nada disso resolve ou esclarece o mais insondável dos mistérios: por que gastar 532 milhões de reais para construir um estádio de 46.000 lugares a remotos 20 quilômetros da capital pernambucana, para o qual há apenas uma via de acesso, com somente duas pistas de tráfego? Na teoria, o estádio é parte de um complexo maior, denominado Cidade da Copa, que contaria com uma universidade federal e shopping center, entre outras atrações para alavancar o desenvolvimento da região. Mas, em Pernambuco, é grande a desconfiança sobre a efetiva concretização desse projeto. Por enquanto, a nova arena, com sua fachada arrojada e luminosa, segue aparecendo no horizonte de quem faz a viagem a São Lourenço da Mata como uma enorme construção futurista escondida no vazio – uma espécie de versão brasileira da famosa Área 51, a base secreta militar americana no deserto de Nevada que, especula-se, trata dos casos de extraterrestres e objetos voadores não identificados. A diferença é que, por aqui, é o bom senso que parece ter saído de órbita.
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