Por Hallyson Alves
Em 1913, Chaplin
fazia parte da Karno Company, um grupo de companhias teatrais muito
famosa na Inglaterra, comandada por Fred Karno. Nesse ano, pôs-se em turnê
pelos Estados Unidos, onde foi descoberto por Mack Sennett, então diretor da Keystone
Studios, em companhia de sua namorada e atriz principal, Mabel Normand, em
Nova York (essa é a versão de Sennett, pois para Chaplin o encontro foi em Los
Angeles). Impressionado com a atuação do inglês, Sennett, embora interessado,
ainda estava com receio em convidá-lo para juntar-se à ele no ramo
cinematográfico (que ainda dava seus primeiros, passos até então):
- O Garoto é bem bonito. – Disse Mabel.
- Acha que ele é
bonito o bastante para o cinema? – eu perguntei.
- Pode ser… –
Mabel respondeu.
- Não sei. – eu
disse a Mabel. – Ele conhece os truques e as rotinas, e sabe como cair (…). Mas
aquela maquiagem e roupas inglesas, não sei.
Assim, Chaplin
assinou um contrato de um ano com Mack Sennett. Oficialmente, em 1914, Chaplin
muda-se para os Estados Unidos, definitivamente, com o desejo de fazer cinema.
Ao final do mesmo ano, já havia rodado mais de trinta e cinco filmes com
a Keystone.
Turnê
da Companhia Karno. Charles Chaplin à direita.
A forma de fazer
comédia no cinema (e principalmente na Keystone), eram estranhas para Chaplin.
Não havia roteiros na maioria das vezes, apenas sendo necessária uma boa e
engraçada ideia, para que as câmeras fossem ligadas e logo as cenas seriam
gravadas. Segundo Robinson (2011), “os filmes da Keystone derivavam do
vaudeville, do circo, dos esquetes cômicos do teatro de variedades, ao mesmo
tempo em que também eram derivados da realidade da América do início do século
XX”. Assim, era comum o uso de elementos como perseguições policiais, ou mesmo
a figura de uma bela dama, acompanhada de uma senhora matrona, ao passo que
alguns espertinho tenta conquistá-la. Chaplin, acostumado com o rigor inglês,
até na hora de fazer comédia, e a tradição do music hall cuja referência
era sua própria mãe, não conseguia familiarizar-se com o método novo. Ele
precisava ter o controle criativo dos seus filmes – e teve, em alguns deles,
pelo menos. Logo, tornou-se o principal artista da Keystone e sua carreira
deslanchou de uma vez. Ele já era conhecido onde quer que passasse e suas
comédias eram solicitadas em todas as salas de exibição. Isso tudo acontecera
apenas em um ano de atuação e, já em 1915, Chaplin muda-se para a Essanay
Studios, onde teria todo o controle de suas produções (e um salário maior).
Em 1917, deixou a Essanay para assinar um contrato com a Mutual Films,
onde gravou 12 curtas, já com uma visível maturidade e evidente controle e
estética própria. A Mutual foi a última empresa onde Chaplin trabalhou como
contratado, pois logo fundaria, em 1919, juntamente com Douglas Fairbanks, Mary
Pickford e D. W. Griffith, a United Artists. Com estúdio, funcionários e verba
própria, agora teria o controle total de suas produções.
A cada novo
lançamento, seu sucesso aumentara de forma impressionante. O cinema lhe deu
fama e dinheiro – muito dinheiro, aliás, pois tornou-se o primeiro artista a
tornar-se milionário com a sétima arte, isso com apenas trinta anos de idade.
Making a Living
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2SCNFBpdTkeSP4LGszOcSgVk8VGazPlfz5eb73PUj_MauK9HLJNw3HLEORo9TSsEfM_5pJD0t1IDhqbsK8ksFLxqp2Ob8vu6kfA0RO6OzmlXiMvsJWQHdzbJ1zP9Qy5J_n7mP6bqkSJ6D/s1600/blogchaplin_makingaliving.jpg)
No dia 02 de
fevereiro de 1914, estreava Making a Living (Carlitos
Repórter, no Brasil), sob a direção de Henry Lehrman. “Não havia história” –
escreveu Chaplin em sua autobiografia. “Era um documentário sobre um vigarista
com alguns toques de comédia”. Curiosamente, a primeira aparição do
Vagabundo (The Tramp), o principal personagem de Charles Chaplin, que o fez ser
conhecido por todo o mundo, não foi em Making a Living. Apesar do título
brasileiro indicar o nome do personagem (para fins publicitários), a estreia do
vagabundo ocorreu apenas no filme posterior a sua estreia, chamado Kid Auto
Races at Venice (Corrida de Automóveis para Crianças), onde já havia a
caracterização deste (chapéu-coco, bengala, terno apertado, calças largas,
grandes sapatos e o bigodinho) mas a psicologia do vagabundo ainda não estava completamente
formada, isso aconteceu na medida que suas atuações foram evoluindo. A
caracterização do personagem de Chaplin em Making a Living era um pouco
diferente e suas atitudes demonstravam mais em se tratar de um certo mau
caráter, que tenta se dar bem a todo custo:
Ele usava uma
cartola cinza, um colete xadrez, colarinho engomado, echarpe de bolinhas e
monóculo. O mais surpreendente foi o grande bigode curvado de vilão triste dos
palcos. No começo do filme, ele estabelece o embuste, que são suas elegantes
pretensões, ao pedir um empréstimo a um amigo moribundo (interpretado por
Lehrman). A primeira gag tipicamente chaplinesca é quando ele rejeita
desdenhosamente a moeda oferecida, por ser muito desprezível, mas depois a
agarra apressadamente, antes que o amigo possa mudar de ideia. (ROBINSON, 2011.
p108)
O
primeiro personagem de Chaplin no Cinema, em Making a Living, de 1914.
Ao que se sabe, a
repercussão do primeiro filme de Chaplin na Keystone não foi a esperada por
Sennett, que inclusive teria dito à ele algo do tipo: “Faça melhor no próximo”.
Chaplin também teria odiado o filme, principalmente por ter verificado que, na
edição, Lehrman teria cortado boa parte de suas gags, que fariam uma diferença
positiva no resultado final. A urgência de Chaplin em compor um personagem novo
para o segundo filme deu-se, sobretudo, por esse motivo.
Entretanto, as
críticas por parte da imprensa da época, foram positivas: “O esperto ator que
interpreta o trapaceiro… é um comediante da mais alta qualidade”. Ganhando cada
vez mais o público e a crítica, Charles Chaplin estava mesmo destinado a
tornar-se uma lenda na história do cinema.
Ficha Técnica
Direção: Henry Lehrman|Roteiro: Reed
Heustis|Produção: Mack Sennett|Direção de Fotografia: Enrique
Juan Vallejo, Frank D. Williams|Intérpretes principais: Charles
Chaplin – o escroque, Henry Lehrman – o noivo, Virgínia Kirtely – a jovem|Duração:12’54”,
preto e branco|Estreia: 02 de fevereiro de 1914
Extraído do http://charliechaplin.wordpress.com/2014/02/01/os-100-anos-de-estreia-de-charles-chaplin-no-cinema/