Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Até 2016, o Brasil
tem a obrigação de incluir todas as crianças de 4 e 5 anos na escola. A tarefa
não será fácil: de acordo com relatório lançado hoje (31) pelo Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), há 1.419.981 crianças nessa faixa de idade que
não estão matriculadas no sistema de ensino. Uma emenda constitucional aprovada
em 2009 ampliou a faixa etária em que a frequência à escola é obrigatória.
Antes, apenas a população de 7 a 14 anos tinha que estar necessariamente
matriculada no ensino fundamental, mas a partir de 2016 o ensino obrigatório
irá cobrir desde a pré-escola até o ensino médio (dos 4 aos 17 anos).
O relatório Todas as Crianças na Escola em 2015 – Iniciativa Global pelas
Crianças Fora da Escola – baseou-se em estatísticas nacionais, como a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), de 2009. O estudo é uma parceria do Unicef com
a Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
No total, cerca de 3,7 milhões
de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos estão fora da escola no Brasil. A
maior defasagem é na pré-escola e no ensino médio, já que entre os brasileiros
de 6 e 14 anos o grupo que não frequenta a escola é menor, cerca de 730 mil.
Entre os brasileiros de
4 e 5 anos que não estão matriculados nos sistemas de ensino, a maior parte é
negra – 56% do total. A renda também é um fator que influencia o acesso à
educação. Enquanto 32% das crianças de famílias com renda familiar per capita de até um quarto do salário mínimo estão
fora da escola, apenas 6,9% daquelas oriundas de famílias com renda superior a
2 salários mínimos per capita estão na mesma situação. Os números indicam
que a frequência ainda insuficiente de crianças de 4 e 5 anos está relacionada,
muitas vezes, à falta de vagas na rede pública. Por isso, no grupo com renda um
pouco maior (dois salários per capita), o
percentual de crianças fora da escola é menor, já que nesse caso a família
acaba optando por pagar uma escola particular.
Para Maria de Salete Silva,
coordenadora do Programa de Educação do Unicef no Brasil, o desafio é grande,
mas algumas iniciativas governamentais, como o Proinfância, que tem a meta de
construir 6 mil creches em todo o país até 2014, são respostas interessantes ao
problema. “A última política do governo, o Brasil Carinhoso, prioriza as
família abaixo da linha da pobreza no acesso à escola e ataca exatamente essa
desigualdade”, aponta.
A representante do Unicef
ressalta, entretanto, que o maior desafio está “na outra ponta” da educação
básica. O relatório diz que 1.539.811 adolescentes entre 15 e 17 anos estão
fora da escola. Nesse caso, os problemas de frequência não estão tão
relacionados à falta de vagas, mas ao desinteresse da população nessa faixa
etária pelo ensino médio. Para muitos jovens já envolvidos com o mercado de
trabalho, a escola é pouco atrativa.
“Isso requer uma mudança muito
grande no ensino médio. Estamos com a maior população de adolescentes da
história do Brasil, a gente não pode perder isso e esperar para resolver na
próxima geração porque está condenando o país a ter milhões de adultos sem
formação escolar”, avalia Salete.
Segundo ela, não será
necessário apenas ampliar as vagas para incluir os jovens que estão fora da
escola, mas torná-la mais atrativa para a realidade deles. “Você precisa trazer
o aluno e incorporar na escola aquilo que é parte do projeto de vida deles. A
escola está longe da vida dos adolescentes”, aponta.
Para incluir toda a população
de crianças e jovens ainda fora da escola, o estudo aponta como uma das medidas
necessárias a ampliação dos recursos para a área. O Unicef apoia a meta de
investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, prevista no
Plano Nacional de Educação (PNE) que está em debate no Congresso Nacional.
“A gente discorda de quem acha
que o problema da educação no Brasil não é dinheiro, mas gestão. Nós temos
problemas sérios de gestão, mas só com os recursos que temos hoje não
conseguimos fazer tudo que é necessário: incluir todos na escola, ter
qualidade, professor bem remunerado e capacitado, escola com boa
infraestrutura. O desafio é enorme”, argumenta.
O secretário de Educação
Básica do Ministério da Educação (MEC), César Callegari, destaca que o governo
federal tem lançado diversas ferramentas para ampliar o acesso de crianças à
pré-escola. Entre elas, cita o Programa Nacional de Reestruturação e
Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância), que
prevê a construção de 5,5 mil creches e pré-escolas, o Brasil Carinhoso, que
reforça a transferência de renda e fortalece a educação com aumento de vagas
nas creches, e o Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), que
oferece apoio técnico e financeiro aos estados e municípios para implementação
da política de educação do campo.
Callegari lembra que entre as
preocupações do governo também está o aumento da qualidade do ensino para
tornar a escola mais atrativa a jovens e adolescentes. Lembra ainda que o MEC
investe anualmente mais de R$ 1,5 bilhão em material didático, livros e jogos
para melhorar o suporte educacional a essa faixa etária.
O secretário informou que a
pasta está elaborando uma proposta de inovação curricular para aumentar o
interesse de jovens de 15 a 17 anos que ainda estão no ensino fundamental e
acabam abandonando as salas de aula porque, por terem repetido o ano, têm que
conviver com crianças mais novas. Segundo ele, as medidas, que ainda serão
discutidas com estados e municípios, só devem ser anunciadas no ano que vem.
O secretário defendeu a
ampliação dos investimento em educação, principalmente com a utilização de
recursos provenientes dos royalties do
pré-sal. “Eles serviriam para valorizar e remunerar melhor os professores,
melhorar as condições físicas das escolas, com laboratórios e bibliotecas, e o
atendimento a crianças e jovens com deficiência”. A educação básica conta hoje
com repasses que correspondem a 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Edição: Graça
Adjuto//Matéria alterada para acréscimo de informações
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