Nos últimos dias,
duas pesquisas de opinião (do Ibope e do Datafolha) sobre quem é quem hoje na
grande política nacional revelaram um quadro de polarização e de cristalização
de posições políticas entre a sociedade, com vantagem renitente para os atuais
detentores do poder federal, que, nessas pesquisas, aparecem com popularidade
inabalada.
Mas, apesar da
reiterada pregação desta e de tantas outras páginas da internet e de pequenos
exércitos de militantes virtuais no sentido de que seria “inútil” a campanha da
grande imprensa contra Lula, PT e – por tabela – Dilma Rousseff, as pesquisas
revelam que, cada um a seu modo, direita e esquerda têm – ou pensam que têm –
razão em suas táticas atuais.
Ter razão, claro,
no sentido de que ambos os lados confiam em suas estratégias com base em
elucubrações racionais e amplamente discutidas internamente. É, pois,
ingenuidade achar que a passividade do PT e a virulência da oposição midiática
derivam de não saberem o que estão fazendo.
Não há bobinhos no
Palácio do Planalto; não há bobinhos no PT; não há bobinhos no PSDB e tampouco
há bobinhos na Globo, na Folha, na Veja ou no Estadão. A forma como agem – ou
reagem, conforme o lado – ao jogo político é produto de intensa reflexão, de
sondagens do eleitorado e de sólidas teorias políticas.
Então você dirá,
leitor petista, que a perenidade da aprovação de Lula, Dilma e PT revelada
pelas pesquisas mostra que ao menos do lado da direita midiática, se não há
“bobinhos”, há dementes, pois quanto mais batem nos petistas mais eles se
fortalecem perante a opinião pública. E, em alguma medida, pode estar certo.
Mas não totalmente.
Vejamos o que
acontece do outro lado. As lideranças e os militantes da direita midiática
serão tão alucinados que não enxergam que foi inútil tudo o que fizeram de
agosto para cá, desde o início concomitante da campanha eleitoral de 2012 e do
julgamento do mensalão?
Nem a militância
destro-midiática é alucinada nem foi inútil sua campanha anti-Lula, anti-PT e –
sempre por tabela – anti-Dilma. Já conversei com muitos desses militantes e sei
por que persistem na artilharia incessante contra esses três eixos da situação
hoje no Brasil, mas nem precisaria.
Todos se lembram da
pregação de dona Judith Brito no Instituto Milenium no sentido de que cabia à
imprensa fazer oposição ao governo federal, explicando que a debilidade da
oposição, decorrente do desenvolvimento econômico e social do país, requeria o
concurso dos meios de comunicação para evitar a “hegemonia lulopetista”.
Para quem não sabe,
em entrevista ao jornal O Globo, em 2010, no âmbito da campanha eleitoral à
Presidência da República, a presidente da Associação Nacional de Jornais e
executiva da Folha de S. Paulo, Maria Judith Brito, fez a seguinte declaração:
“A liberdade
de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o
contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E,
obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição
oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E
esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda
sobremaneira o governo”
Leia agora, abaixo,
comentário do verbete “Partido da Imprensa Golpista” na Wikipedia.
“A declaração
de Maria Judith Brito foi bastante criticada por repórteres e intelectuais, bem
como por autoridades ligadas ao governo. As críticas focaram no aparente
reconhecimento de que a imprensa estaria, de fato, assumindo um papel de
oposição.
Em artigo
publicado na Carta Maior, Jorge Furtado afirmou que a presidente da associação
teria assumido que a grande imprensa do país virou um ‘partido político’ e a
criticou por não questionar a ‘moralidade de seus filiados [ao] assumirem a
‘posição oposicionista deste país’ enquanto, aos seus leitores, alegam praticar
jornalismo’
Luciano Martins
Costa, do Observatório da Imprensa, fez crítica semelhante, afirmando que ‘o
risco maior para a imprensa vem da própria imprensa, quando os jornais se
associam para agir como um partido político’.
O ministro
Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, também
criticou a declaração, afirmando que a imprensa ‘vem confundindo um papel que é
dela — informar, cobrar e denunciar — com o papel do protagonismo partidário’.
Washington
Araújo, no Observatório da Imprensa, questiona: ‘será papel dos meios de
comunicação substituir a ação dos partidos políticos no Brasil, seja de
situação ou de oposição? (…) Em isso acontecendo… não estaremos às voltas com
clássica usurpação de função típica de partido político? E não seria esta uma
gigantesca deformação do rito democrático?’”
Você pode concordar
ou discordar da posição da grande imprensa brasileira – ou de seus maiores
componentes –, mas não se pode discordar de que há uma lógica no que faz. Vamos
a ela.
É claro que sem as
campanhas acusatórias aos petistas e aos aliados deles, estariam com
popularidade muito mais alta. Há pouco, Dilma anunciou duas medidas que têm um
potencial imensurável de beneficiar a sociedade. O que seja, a forte redução
nos juros e no valor da conta de luz.
Imagine você,
leitor, o que aconteceria se essas medidas fossem implantadas sem que ninguém
tentasse minimizar e até desmentir, ainda que de forma absurda, o potencial
delas para melhorar a vida da sociedade e fomentar o desenvolvimento. A esta
altura, Dilma teria 99,99% de aprovação.
A mídia, pois,
apela à idiotia ou ao preconceito ou à falta de instrução ou ao egoísmo ou à
falta de caráter de setores da sociedade – ou a tudo isso junto – para formar
seu exército antilulista e antipetista. E consegue. E esse êxito está expresso
nos números da pesquisa Datafolha divulgada neste domingo pela Folha de São
Paulo, com destaque para Lula, que continua forte como nunca apesar de estar
sofrendo uma das maiores ofensivas de seus adversários.
As pessoas, porém,
confundem aprovação com intenção de voto e é por isso que alguns não entendem
por que Dilma tem 78% de aprovação pessoal, mas só 53% a 57% de intenções de
voto para presidente da República.
A explicação é
muito simples: aprovação não é pesquisada só entre eleitores, mas também entre
quem não vota ainda ou entre quem não vota mais. E também entre quem não quer
votar.
Uma analogia pode
explicar melhor esse aparente paradoxo: a pessoa pode gostar muito de ir à
praia, mas isso não significa que deseje ou pretenda morar na praia, da mesma
forma que reconhecer que o governo está indo bem não significa que a pessoa não
julgue que pode ir melhor.
A estratégia
midiática, portanto, é, sim, racional. É questionável? Claro que é. Afinal, por
mais que o engajamento político-partidário da grande imprensa tenha tido êxito
no que se propôs (formar uma militância ampla de resistência à possibilidade de
“hegemonia lulopetista”), Ibope e Datafolha acabam de mostrar que todo esse
esforço tem sido insuficiente.
O contraponto à
estratégia da direita midiática é o de auto vitimização dos detentores do
poder, o que não seria possível se não houvesse um imenso fundo de verdade na
premissa de que Lula, PT e Dilma são alvos de injustiças e violações de seus
direitos civis.
Essa estratégia
também tem tido largo êxito. E, à diferença da estratégia oposicionista, um
êxito majoritário, pois se estão cristalizadas posições contra o governo,
igualmente se cristalizaram as posições no sentido de que a imprensa está sendo
vista como um legítimo partido político, o que, por si só, não condena, mas
descredencia para a crítica.
É claro, evidente e
cristalino que quem não é corintiano ou palmeirense não irá levar em conta a
opinião de um torcedor do Corinthians sobre o Palmeiras e vice-versa. É o que
ocorre com a disputa entre situação petista e oposição demo-tucano-midiática. A
maioria já se convenceu de que não dá para levar em conta o noticiário “da
Globo” porque “a Globo” odeia o PT.
Resta, pois, a
insinuação que o Partido da Imprensa tenta contrabandear dentro do noticiário
sobre essas recentes pesquisas Ibope e Datafolha, a de que, aos poucos, a
campanha midiática está surtindo efeito. Isso porque os pesquisados revelaram
um pouco mais de desagrado com aspectos da governança do país, com destaque
para a Segurança, por exemplo.
Essa premissa
ignora o fato de que não há nada de inédito ou de espantoso em um contingente
maior, mas ainda muito pequeno dos pesquisados, desaprovar aspectos da condução
do país pelo governo do PT, pois governos estaduais e municipais de oposição
têm sofrido revés muito maior – pesquisas recentes mostram, por exemplo, que
71% dos paulistas não confiam no governador tucano Geraldo Alckmin para
resolver os problemas de Segurança que assolam São Paulo.
Além disso, sempre
que aumenta o nível de crítica ao governo, a Lula e ao PT na mídia, o efeito
imediato é o de aumentar, de alguma maneira, a visão crítica da sociedade sobre
este ou aquele aspecto, e essas pesquisas estimulam isso ao fazerem perguntas
ao pesquisado que o induzem a refletir sobre o que possa existir de negativo em
um governo que considera bom.
Sobre a economia,
apesar de a mídia agir como se o crescimento não estivesse diminuindo
fortemente no mundo inteiro, praticamente tentando vender que esse é um
problema brasileiro, quem não sabe que enquanto aqui não decorre nenhum grande
problema por conta da crise internacional nos países que sempre foram o oásis
do bem-estar social as famílias estão sendo despejadas de suas casas aos
milhares, o desemprego grassa e aquele bem-estar vai sumindo?
Apesar do fato de
uma parcela da sociedade entrar nessa onda da mídia, a grande maioria – que as
pesquisas dizem ser de quase 80% – sabe muito bem que estamos nos saindo
brilhantemente ao navegar por uma crise que assola o planeta inteiro.
Essa é a fraqueza
da estratégia da direita midiática, e é devido a ela que o governo federal e a
sua titular vão conseguindo não apenas cristalizar, mas aumentar o contingente
dos que apoiam o rumo da administração do país. A maioria dos brasileiros está
convencida de que a grande imprensa virou mesmo o que até já assumiu que é: um
partido político.
http://www.blogdacidadania.com.br/2012/12/pesquisas-revelam-que-maioria-ve-imprensa-como-partido-politico/
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