Foto: Nassa
O primeiro homem a
pisar na Lua, Neil Armstrong, morreu aos 82 anos nos Estados Unidos neste
sábado (25), informou a família do astronauta em nota à imprensa.
"Estamos de
coração partido ao dividir a notícia de que Neil Armstrong faleceu após
complicações ligadas a procedimentos cardiovasculares", diz a nota.
"Neil foi um marido, pai, avó, irmão e amigo amoroso."
No Twitter, a Nasa
ofereceu "seus sentimentos pela morte de Neil Armstrong, ex-piloto de
testes, astronauta e primeiro homem na Lua."
saiba mais
Conheça a biografia
Armstrong foi o comandante da
Apollo 11, missão que chegou ao satélite da Terra em 20 de julho de 1969. Ao
ser o primeiro ser humano a pisar em outro corpo celeste, Armstrong proferiu a
frase: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.”
Nascido em 5 de
agosto de 1930, Armstrong foi piloto da Marinha dos Estados Unidos entre 1949 e
1952 e lutou na Guerra da Coreia. Em 1955, se formou em engenharia aeronáutica
pela Universidade de Purdue e se tornou piloto civil da agência que precedeu a
Nasa, a Naca (Conselho Nacional de Aeronáutica).
Lá, entre outras
aeronaves, pilotou o X-15 – avião experimental lançado por foguete onde
ocorreram as primeiras tentativas americanas de chegar aos limites da atmosfera
e à órbita do planeta. Em 2012, o X-15 ainda mantém o recorde de velocidade
mais alta já atingida por um avião tripulado.
Em 1962, ele deixou
a função de piloto de testes e passou a ser astronauta – com a Naca já
transformada em Nasa. Sua primeira missão espacial foi como comandante da Gemini
8, em março de 1966, onde ele e o astronauta David Scott fizeram a primeira
acoplagem de duas naves espaciais. Na ocasião, ele se tornou o primeiro civil
americano a ir ao espaço.
Durante o voo, os
dois quase morreram. Enquanto a nave estava sem contato com a Terra, a Gemini
8, acoplada na sonda Agena, começou a girar fora de controle. Inicialmente,
Armstrong achou que o problema era com a Agena e tentou diversas opções para
parar o giro – sem sucesso. Ao desacoplar as duas naves, o problema piorou. A instantes
de perder a consciência pela velocidade com que a Gemini 8 girava, Armstrong
usou os motores que serviam para a reentrada na Terra para controlar a
espaçonave. A Gemini parou de girar e a dupla fez um pouso de emergência
próximo ao Japão, sem completar outros passos da missão, como uma caminhada
espacial que seria realizada por Scott.
Armstrong no módulo lunar Eagle, após pouso na Lua (Foto: Johnson Space Center Media Archive)
SAIBA MAIS
Após a missão,
Armstrong acompanhou o presidente americano Lyndon Johnson e outros astronautas
em uma viagem à América do Sul que incluiu o Brasil. Segundo sua biografia
oficial, escrita por James R. Hansen, Armstrong foi especialmente bem recebido
pelas autoridades brasileiras por conhecer e conversar bem sobre a história de
Alberto Santos Dumont.
Apollo 11 e a ida à
Lua
Com o fim do programa Gemini e
o início do Apollo, Armstrong foi selecionado como comandante da Apollo 11.
Segundo a Nasa, não houve uma escolha formal inicial de quem deveria ser o
primeiro a pisar na Lua. Todos os astronautas envolvidos no Apollo, segundo
eles, teriam chances iguais.
As missões eram
organizadas para cumprir uma crescente lista de tarefas. Assim, a Apollo 7 era
um voo de teste do módulo de comando – o que era chamado de “missão tipo C”. A
seguinte, 8, testou a viagem até a Lua. A 9 testou o módulo lunar, uma missão
tipo “D”. Se houvesse qualquer problema em uma dessas missões, ela deveria ser
retomada até dar certo.
Por isso, embora
Armstrong e sua tripulação, Buzz Aldrin e Michael Collins, estivessem com a
primeira missão do tipo “G”, que tentaria um pouso – não estava garantido que
eles de fato fossem ser os primeiros a fazer isso. Qualquer problema nas
missões anteriores e a 11 poderia ter que assumir etapas preparatórias.
´´Um pequeno passo
para um homem, um grande salto para a humanidade``
Neil Armstrong, em 20 de
julho de 1969
Quando ficou
razoavelmente claro que a Apollo 11 seria a primeira missão a tentar o pouso, a
mídia americana passou a informar que Buzz Aldrin seria o primeiro homem na
Lua. A lógica dos jornalistas seguia o fato de que no programa Gemini o piloto
– não o comandante – era quem saía da nave. Além disso, os primeiros materiais
de divulgação feitos pela Nasa mostravam o piloto saindo primeiro e o
comandante depois.
Em uma coletiva de
imprensa feita em abril de 1969, a Nasa informou que a decisão de fazer
Armstrong sair primeiro foi técnica, já que a porta do módulo lunar estava do
lado dele. Em entrevistas dadas mais tarde, Deke Slayton, chefe dos astronautas
na época, disse que a decisão foi “protocolar”: ele achava que o comandante da
missão deveria ser o primeiro na Lua. As opiniões de Armstrong e Aldrin,
segundo ele, não foram consultadas.
O pouso
Após a decolagem em 16 de
julho, Armstrong e Aldrin começaram a descida até a Lua em 20 de julho no
módulo lunar, apelidado de “Eagle”. Durante a descida, a menos de dois mil
metros de altura, dois alarmes soaram indicando que o computador estava
sobrecarregado. Seguindo a orientação do controle de missão, Armstrong os
ignorou e manteve o pouso.
Ao olhar pela
janela, viu que o computador os estava levando para uma área com muitas pedras.
O americano então assumiu o controle manual da nave e pousou. Ao encostar na
Lua, restavam apenas 25 segundos de combustível no Eagle.
As primeiras
palavras de seres humanos na Lua foram, na verdade, Armstrong e Aldrin fazendo
a checagem pós-pouso. Termos técnicos como “parada de motor”, “controle
automático ligado”, “comando do motor de descida desligado”. Apenas ao final
dessa lista, Armstrong falou com a Terra: “Houston, Base da Tranquilidade aqui.
A Águia [“Eagle” em inglês] pousou”.
Durante todo o
processo de pouso, o controle na Terra se manteve em silêncio, permitindo que a
dupla se concentrasse. Com o contato de Armstrong, o astronauta Charlie Duke,
em Houston, respondeu bem humorado: “vocês têm um monte de caras quase ficando
azuis aqui, estamos respirando de novo.”
Armstrong e Aldrin
ficaram 21 horas e 36 minutos na Lua – duas horas e 36 minutos caminhando por
ela. O tempo fora da nave foi progressivamente aumentado a cada missão Apollo –
na última, a 17, os astronautas ficaram mais de 22 horas fazendo caminhadas
lunares.
Retorno à Terra e
vida pessoal
Armstrong, em imagem de 2006, após receber prêmio (Foto: NASA Kennedy Center Media Archive Collection)
Neil Armstrong foi
recebido como herói após sua volta, com condecorações de diversos países. A
mais recente foi a medalha de honra, a mais alta honraria concedida pelos
Estados Unidos, dada a ele e a outros pioneiros espaciais em novembro de 2011.
Eu sou e sempre serei
um engenheiro nerd, com meias brancas e protetores de bolso."
Neil Armstrong, em 2007
Após a missão de
1969, ele assumiu uma posição de gerência na Nasa e participou da investigação
do acidente da Apollo 13. Ele se aposentou da agência em 1971.
Em 1970, obteve um
mestrado em engenharia aeroespacial da Universidade do Sul da Califórnia.
Depois, virou professor na Universidade de Cincinnati, onde morava, até 1979.
Armstrong também fez parte da mesa diretora de algumas empresas americanas. Em
1986, a convite do presidente americano Ronald Reagan, participou da
investigação do acidente do ônibus espacial Challenger.
Vida de reclusão
Armstrong casou com Janet
Shearon em 1956, com quem teve três filhos: Eric, Karen e Mark. Karen morreu de
câncer no cérebro em 1962, aos três anos, e jamais viu o pai ir ao espaço. Ele
e Janet se divorciaram em 1994, após 38 anos de casamento. No mesmo ano, ele se
casou com sua segunda esposa, Carol Knight.
Armstrong viveu uma
vida de reclusão após a Apollo 11. Convidado frequentemente por partidos
americanos, ele se recusou a concorrer a um cargo político. Armstrong também
raramente era visto em público e quase nunca dava entrevistas, além de não
costumar tirar fotos ou dar autógrafos, porque não gostava que eles eram
vendidos por valores que ele considerava “absurdos”. Sua única biografia
autorizada foi publicada em 2005. Ele também costumava processar empresas que
usavam sua imagem sem autorização e doar as indenizações recebidas à faculdade
em que se formou. Em 2005, processou seu barbeiro por ter vendido fios de seu
cabelo por US$ 3 mil. O barbeiro teve que doar o valor para a caridade.
Em 2007, 38 anos após
a viagem à Lua, em uma rara aparição em público, Armstrong se definiu como
"um engenheiro nerd". "Eu sou e sempre serei um engenheiro nerd,
com meias brancas e protetores de bolso. E eu tenho um grande orgulho das
realizações da minha profissão," disse.
Em 2009, ele fez
uma
viagem
"secreta" ao Brasil, onde passou por São Paulo,
Rio de Janeiro e Santa Catarina.
A nota da família
sobre a morte de Armstrong é encerrada com um pedido: "Para aqueles que
perguntam o que podem fazer para honrar a Neil, temos um simples pedido. Honrem
seu exemplo de serviço, feitos e modéstia, e a próxima vez que você der um
passeio em uma noite clara e vir a Lua sorrindo para você, lembre de Neil
Armstrong e dê uma piscadela para ele.”
Fonte: G1