Por Kleber Nunes
Da Folha de Pernambuco
Da Folha de Pernambuco
Símbolo de status e de
credibilidade na praça no século passado, o cheque já foi um instrumento de
transação financeira importante para os brasileiros. Atualmente, a moeda
escritural – como é classificada por especialistas – está caindo em desuso, bem
como as expressões “pré-datado”, “cruzado” e “borrachudo”. De acordo com dados
do Banco Central do Brasil (BCB), nos últimos dez anos, a quantidade de cheques
usados em Pernambuco caiu 53,8%, seguindo uma tendência comum a todo o País.
Segundo o professor de Economia
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Faculdade Boa Viagem (FBV),
Roberto Ferreira, o principal motivo para a redução do uso do talão de cheques
está no aumento da oferta de crédito e o crescente número de cartões e as
facilidades para adquiri-los. “No fim do século passado, o poder de compra era
muito restrito e o cheque representava essa distinção. Hoje, o acesso ao
crédito é mais democrático e conta com o sistema mais moderno dos cartões”,
analisou.
A troca natural pelo cartão
aconteceu com a bibliotecária Gicélia Pontes, 45 anos. Ela diz que evita o
quanto pode o uso do cheque. “Prefiro pagar a compra à vista ou no débito a ter
que passar um cheque. Não acho uma forma segura de compra, mas, às vezes,
acontece de pagar com pré-datados, porém em poucas parcelas”, ponderou.
A insegurança para quem
compra, mas principalmente para quem vende utilizando o cheque, também vem
contribuindo para que a moeda seja esquecida. Para o consumidor há o temor da
clonagem; já para o comerciante, a possibilidade de receber um papel sem valor.
Receio que ronda os setores econômicos mesmo com a queda no número de cheques
sem fundo: de acordo com a Serasa Experian, apenas 2% dos cheques movimentados
este ano eram “borrachudos”.
Mesmo perdendo espaço para o
cartão de crédito e débito, o cheque tem sua utilidade em alguns casos.
“Utilizo poucas vezes o talão de cheques, mas, em algumas situações, ainda vale
a pena usá-lo, como, por exemplo, no pagamento de um curso que você pode quitar
as mensalidades em cheques pré-datados, bem melhor do que boleto bancário”,
afirmou o servidor público federal, Éric Amaral, 46.
“O cheque é coisa do passado,
mas não será extinto. Ele continuará cumprindo seu papel em algumas transações,
como pagamento de cursos, compra de automóveis, dentre outros”, avaliou Roberto
Ferreira.
SINTONIZANDO O LEITOR:
O uso do cheque caiu mais de 30% em cinco anos. E o
pagamento com cartões ganhou a preferência dos consumidores e dos lojistas. Os
especialistas acreditam que o abandono do cheque aconteceu por causa de uma
campanha pesada dos bancos para fazerem os clientes migrarem para outras formas
de pagamento. Mas tem consumidor nas ruas que coloca a culpa no descontrole dos
gastos.
Um cartão, outro cartão, dinheiro. O cheque
parece ter caído em desuso. Dona Valdete nem carrega o talão na carteira.
“Quando eu preciso sempre mando em casa mesmo, eu uso lá mesmo”, diz.
Já Rosa não tem nem mesmo em casa. “Eu nunca
uso cheque. Eu sempre uso cartão”.
Segundo o Banco Central, em cinco anos, o uso
do cheque caiu 34% no Brasil, enquanto o do cartão de crédito subiu 121% e o de
débito 157%.
“A gente se perde muito no controle, cheque
cai, vai estourando limite no banco, enfim, vira um bolo de neve. Por isso eu
parei de usar. Então eu uso normalmente o dinheiro, ou então o cartão em último
caso”, conta.
O presidente da administradora do Serviço de
Proteção ao Crédito, Dorival Dourado, aponta outras razões. “Uma campanha
intensiva do sistema financeiro de uma forma geral para migrar da transação de
papel para uma transação eletrônica. Reduz o custo operacional e facilita o
processo de aprovação”, afirma.
O cheque anda mesmo desprestigiado. Em uma
loja na Rua 25 de Março, rua do comércio popular de São Paulo, são feitas por
dia seis mil vendas. E apenas 35 cheques passam pelos caixas. E para pagar com
as folhinhas só com cadastro.
Não adianta querer fazer na hora, o cadastro
tem que ser antigo. Esse foi o modo que a loja encontrou para reduzir a taxa de
inadimplência a quase zero.
O professor universitário Pedro Henrique
Aragão não sabia da regra. Foi de Londrina pra comprar material para um
congresso e quase voltou sem nada. “Eu tenho que usar o cheque, porque para
cada cheque eu tenho que apresentar uma nota fiscal para o governo”, explica.
Para sorte do professor, o gerente permitiu a
venda, mas só depois de ter a certeza de que o cheque não ia voltar por falta
de fundos. “Uma verdadeira exceção. É uma compra considerada e a gente, nos
dias de hoje, não pode perder uma venda dessa”, afirma Ondamar Ferreira.
Segundo a pesquisa do Banco Central, em 2005,
os brasileiros emitiam 10 cheques por ano, em média. Cinco anos depois, eram
apenas seis.
Cancelar um cheque roubado ou extraviado
também custa caro: de acordo com o BC, a taxa é de R$ 10 por folha. E muitos
bancos cobram uma taxa extra quando o cheque é abaixo de R$ 30.
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