terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ainda existe Cheque




Por Kleber Nunes
Da Folha de Pernambuco
Símbolo de status e de credibilidade na praça no século passado, o cheque já foi um instrumento de transação financeira importante para os brasileiros. Atualmente, a moeda escritural – como é classificada por especialistas – está caindo em desuso, bem como as expressões “pré-datado”, “cruzado” e “borrachudo”. De acordo com dados do Banco Central do Brasil (BCB), nos últimos dez anos, a quantidade de cheques usados em Pernambuco caiu 53,8%, seguindo uma tendência comum a todo o País.
Segundo o professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Faculdade Boa Viagem (FBV), Roberto Ferreira, o principal motivo para a redução do uso do talão de cheques está no aumento da oferta de crédito e o crescente número de cartões e as facilidades para adquiri-los. “No fim do século passado, o poder de compra era muito restrito e o cheque representava essa distinção. Hoje, o acesso ao crédito é mais democrático e conta com o sistema mais moderno dos cartões”, analisou.
A troca natural pelo cartão aconteceu com a bibliotecária Gicélia Pontes, 45 anos. Ela diz que evita o quanto pode o uso do cheque. “Prefiro pagar a compra à vista ou no débito a ter que passar um cheque. Não acho uma forma segura de compra, mas, às vezes, acontece de pagar com pré-datados, porém em poucas parcelas”, ponderou.
A insegurança para quem compra, mas principalmente para quem vende utilizando o cheque, também vem contribuindo para que a moeda seja esquecida. Para o consumidor há o temor da clonagem; já para o comerciante, a possibilidade de receber um papel sem valor. Receio que ronda os setores econômicos mesmo com a queda no número de cheques sem fundo: de acordo com a Serasa Experian, apenas 2% dos cheques movimentados este ano eram “borrachudos”.
Mesmo perdendo espaço para o cartão de crédito e débito, o cheque tem sua utilidade em alguns casos. “Utilizo poucas vezes o talão de cheques, mas, em algumas situações, ainda vale a pena usá-lo, como, por exemplo, no pagamento de um curso que você pode quitar as mensalidades em cheques pré-datados, bem melhor do que boleto bancário”, afirmou o servidor público federal, Éric Amaral, 46.
“O cheque é coisa do passado, mas não será extinto. Ele continuará cumprindo seu papel em algumas transações, como pagamento de cursos, compra de automóveis, dentre outros”, avaliou Roberto Ferreira.


SINTONIZANDO O LEITOR:

O uso do cheque caiu mais de 30% em cinco anos. E o pagamento com cartões ganhou a preferência dos consumidores e dos lojistas. Os especialistas acreditam que o abandono do cheque aconteceu por causa de uma campanha pesada dos bancos para fazerem os clientes migrarem para outras formas de pagamento. Mas tem consumidor nas ruas que coloca a culpa no descontrole dos gastos.
Um cartão, outro cartão, dinheiro. O cheque parece ter caído em desuso. Dona Valdete nem carrega o talão na carteira. “Quando eu preciso sempre mando em casa mesmo, eu uso lá mesmo”, diz.
Já Rosa não tem nem mesmo em casa. “Eu nunca uso cheque. Eu sempre uso cartão”.
Segundo o Banco Central, em cinco anos, o uso do cheque caiu 34% no Brasil, enquanto o do cartão de crédito subiu 121% e o de débito 157%.
“A gente se perde muito no controle, cheque cai, vai estourando limite no banco, enfim, vira um bolo de neve. Por isso eu parei de usar. Então eu uso normalmente o dinheiro, ou então o cartão em último caso”, conta.
O presidente da administradora do Serviço de Proteção ao Crédito, Dorival Dourado, aponta outras razões. “Uma campanha intensiva do sistema financeiro de uma forma geral para migrar da transação de papel para uma transação eletrônica. Reduz o custo operacional e facilita o processo de aprovação”, afirma.
O cheque anda mesmo desprestigiado. Em uma loja na Rua 25 de Março, rua do comércio popular de São Paulo, são feitas por dia seis mil vendas. E apenas 35 cheques passam pelos caixas. E para pagar com as folhinhas só com cadastro.
Não adianta querer fazer na hora, o cadastro tem que ser antigo. Esse foi o modo que a loja encontrou para reduzir a taxa de inadimplência a quase zero.
O professor universitário Pedro Henrique Aragão não sabia da regra. Foi de Londrina pra comprar material para um congresso e quase voltou sem nada. “Eu tenho que usar o cheque, porque para cada cheque eu tenho que apresentar uma nota fiscal para o governo”, explica.
Para sorte do professor, o gerente permitiu a venda, mas só depois de ter a certeza de que o cheque não ia voltar por falta de fundos. “Uma verdadeira exceção. É uma compra considerada e a gente, nos dias de hoje, não pode perder uma venda dessa”, afirma Ondamar Ferreira.
Segundo a pesquisa do Banco Central, em 2005, os brasileiros emitiam 10 cheques por ano, em média. Cinco anos depois, eram apenas seis.
Cancelar um cheque roubado ou extraviado também custa caro: de acordo com o BC, a taxa é de R$ 10 por folha. E muitos bancos cobram uma taxa extra quando o cheque é abaixo de R$ 30.



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