Médicos de 20
estados decidiram nesta quarta-feira (10) suspender o atendimento a pacientes
de planos de saúde, em protesto contra o que os profissionais consideram ser
"abusos" praticados pelas operadoras, segundo o Conselho Federal de
Medicina (CFM).
Inicialmente, a
duração da paralisação nacional varia em cada estado, mas o CFM afirma que pode
se estender por até 15 dias e, durante esse período, estão previstas
manifestações públicas, como assembleias e caminhadas.
VEJA A
SITUAÇÃO EM CADA ESTADO
|
|
Estado
|
Situação
|
Acre
|
|
Alagoas
|
Não haverá suspensão no atendimento
|
Amapá
|
Não haverá suspensão no atendimento
|
Amazonas
|
Paralisação total apenas dia 15
|
Bahia
|
|
Ceará
|
Não haverá suspensão no atendimento
|
Distrito Federal
|
Não haverá suspensão no atendimento
|
Espírito Santo
|
Assembleia no dia 15, às 19h30
|
Goiás
|
Paralisação parcial do dia 17 ao 19
|
Maranhão
|
|
Mato Grosso
|
Paralisação parcial no dia 11
|
Mato Grosso do Sul
|
|
Minas Gerais
|
|
Pará
|
Não haverá suspensão no atendimento
|
Paraíba
|
Paralisação parcial do dia 14 ao 24
|
Paraná
|
Paralisação total até o dia 24
|
Pernambuco
|
|
Piauí
|
Paralisação total até dia 14
|
Rio de Janeiro
|
Paralisação parcial do dia 15 ao 30
|
Rio Grande do Norte
|
|
Rio Grande do Sul
|
Paralisação parcial do dia 15 ao 17
|
Rondônia
|
Paralisação total do dia 15 ao 17
|
Roraima
|
Não haverá suspensão no atendimento
|
Santa Catarina
|
Paralisação parcial do dia 15 ao 19
|
São Paulo
|
|
Sergipe
|
|
Tocantins
|
Paralisação total do dia 15 ao 25
|
De acordo com nota
divulgada pelo CFM, os profissionais pedem um reajuste anual dos honorários e a
garantia de uma melhor assistência aos pacientes, sem interferência das
operadoras na relação médico-paciente, entre outras exigências.
O movimento não
deve atingir casos de emergência – apenas a chamada assistência eletiva, ou
seja, quando a pessoa tem a possibilidade de voltar em outra ocasião. Segundo
lideranças ouvidas pelo CFM, os pacientes não devem ser prejudicados, pois
serão informados previamente sobre a suspensão do atendimento e vão poder
remarcar as consultas e cirurgias agendadas.
O secretário de
saúde suplementar da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Márcio Bichara,
diz que esta é a segunda paralisação do ano por motivos semelhantes – a
primeira ocorreu no dia 25 de abril. No ano passado, foram feitos outros dois
protestos: em 7 de abril e 21 de setembro.
"Queremos
formalizar nosso contrato com as operadoras dos planos de saúde, pois não temos
uma relação de emprego, com carteira assinada, mas existe, sim, uma relação de
trabalho, com prestação de serviços", diz Bichara. De acordo com ele,
cerca de 150 mil médicos prestam serviços atualmente aos planos de saúde.
O representante da
Fenam afirma que, nos últimos dez anos, os honorários dos médicos tiveram um
reajuste de cerca de um terço do aumento do preço dos planos de saúde no mesmo
período. "Essas manifestações também nos prejudicam, porque, se não
trabalhamos, não ganhamos. Mas é um alerta para a população também", diz.
saiba mais
Críticas à ANS
Bichara também fez críticas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regular os planos individuais no país – os coletivos ficam a critério das operadoras e das companhias que contratam os serviços.
Bichara também fez críticas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regular os planos individuais no país – os coletivos ficam a critério das operadoras e das companhias que contratam os serviços.
Segundo o
secretário, a ANS deveria cobrar as operadoras para estabeleceram esse contrato
de prestação de serviços entre as empresas e os médicos. Esse tipo de contrato,
segundo o secretário da Fenam, é firmado com hospitais, mas não com médicos que
atendem em consultório.
Além disso, na
opinião de Bichara, a agência deveria fixar um número mínimo de médicos
credenciados para atender a determinada carteira de usuários.
"Uma forma que
as operadoras têm de economizar é não credenciar mais médicos, porque, quanto
menos profissionais prestarem serviço, menos elas gastam. A rede de usuários é
ampliada, mas não a de médicos. O Ministério da Saúde e a ANS tinham que cobrar
isso. A ANS agora começou a punir os planos, porque o caos se instalou",
acredita Bichara.
O secretário diz
que há referências internacionais para saber quantos médicos de cada
especialidade são necessários para atender determinado grupo de pessoas.
Resposta da ANS
De acordo com a assessoria da ANS, não é trabalho da agência regular a a tividade dos médicos, mas há resoluções destinadas ao trabalho dos prestadores, como hospitais, clínicas, laboratórios e os próprios profissionais.
De acordo com a assessoria da ANS, não é trabalho da agência regular a a tividade dos médicos, mas há resoluções destinadas ao trabalho dos prestadores, como hospitais, clínicas, laboratórios e os próprios profissionais.
Em nota, a ANS diz
que "vem trabalhando no limite de sua competência legal na relação entre
planos de saúde e prestadores, tendo em vista que não tem autorização por lei
para fixar valores de honorários dos profissionais de saúde".
Apesar disso, em
maio, a agência editou uma normativa que "prevê critérios para reajustes
entre operadoras e profissionais da saúde, para dar mais clareza aos contratos
e detalhar como serão feitos os reajustes, evitando discussões entre as partes
por falta de regras claras".
O texto diz ainda
que, além disso, a ANS tem atuado como "facilitadora em diversos fóruns,
na discussão de formas de revisão e atualização dos honorários médicos". A
agência informa que reconhece a legitimidade dos protestos dos médicos, para
garantir uma melhor remuneração da categoria. Apesar disso, "destaca a
necessidade de que esses movimentos não prejudiquem o atendimento à
população".
A ANS afirma também
que vem buscando uma negociação entre o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) e as entidades representativas dos médicos, para um acordo
coletivo.
A agência destaca
que as operadoras têm "a obrigação de oferecer a assistência médica
contratada pelos seus beneficiários, nos prazos estabelecidos pela garantia de
atendimento". Nesse sentido, a ANS diz que atuará para que isso seja
cumprido pelas empresas.
Recentemente, a
agência fez uma consulta pública sobre planos coletivos com até 29 pessoas. Até
o fim do ano, a ANS pode editar uma portaria para que os reajustes não sejam
mais feitos individualmente a cada grupo pequeno, mas sobre todo o conjunto da
carteira da operadora, que inclui várias empresas.
Mais de 300 planos
suspensos
Desde sexta-feira (5), a ANS suspendeu a venda de 301 planos de saúde, administrados por 38 operadoras, durante três meses.
Desde sexta-feira (5), a ANS suspendeu a venda de 301 planos de saúde, administrados por 38 operadoras, durante três meses.
A medida foi tomada
por descumprimento de prazos estabelecidos para atendimento médico, realização
de exames e internações.
Essa é a segunda
vez que a agência divulgou esse tipo de punição – a primeira foi em julho e
atingiu 268 planos por três meses.
Embate entre médicos
e planos
Além de criticar a falta de credenciamento de novos médicos por parte das operadoras, o secretário de saúde suplementar da Fenam, Márcio Bichara, apontou a demora tanto para agendar consultas quanto para ser atendido no dia marcado.
Além de criticar a falta de credenciamento de novos médicos por parte das operadoras, o secretário de saúde suplementar da Fenam, Márcio Bichara, apontou a demora tanto para agendar consultas quanto para ser atendido no dia marcado.
"O usuário
está sendo enganado, comprando uma prestação de serviço que não vai ter. Nem os
prazos mínimos de marcação de consulta são respeitados. Se você tiver um plano
de saúde e for hoje a qualquer pronto-atendimento de pediatria, vai levar de 2
a 4 horas para ser avaliado pelo médico. Isso não é justo, a pessoa está
pagando pelo serviço", diz Bichara.
Segundo o
representante da Fenam, existe ainda o problema da demora de liberação de guias
para exames complexos e cirurgias.
"Quanto mais
as operadoras demoram, menos gastam, porque as pessoas desistem, adiam, deixam
para lá. Se as empresas enrolam, você pensa: 'Depois eu faço'. Elas vão jogando
os gastos para os meses seguintes, para ganhar tempo e poder pagar
depois", afirma.
Os planos de saúde
não têm uma única entidade que os represente – são várias, que respondem por
grupos de operadoras. Segundo o diretor executivo da Federação Nacional de
Saúde Suplementar (Fenasaúde), que representa 15 das maiores (como Bradesco,
Allianz, Amil, Golden Cross, Itauseg Saúde, Porto Seguro e SulAmérica), José
Cechin, uma resolução da ANS sobre os contratos deve entrar em vigor em meados
de novembro, e a meta agora é discutir os termos dessas cláusulas e decidir
quanto cada operadora estabelecerá efetivamente de reajuste.
"Nossas
operadoras são as que pagam valores mais altos de consulta, e o reajuste anual
tem sido uma prática, inclusive acima da inflação e do índice estabelecido pela
ANS. Entre 2005 e 2011, reajustamos os honorários de consulta médica em 71%,
enquanto o índice autorizado pela ANS foi de 66,5%", diz Cechin.
Na opinião dele,
não é bom fixar um índice, pois esses serviços deveriam ser de livre negociação
entre as partes envolvidas, já que estabelecer índices acaba dependendo também
da economia e da inflação. Com os hospitais, por exemplo, é feita uma
negociação caso a caso, de acordo com Cechin.
Sobre as críticas
em relação à demora na liberação de guias para exames complexos e cirurgias,
ele afirma: "As operadoras precisam de um prazo para autorizar a liberação
porque temos uma equipe médica que avalia aquele pedido e pode questionar o
profissional responsável pela emissão sobre por que aquele procedimento está
sendo pedido".
Na opinião do
diretor executivo da Fenasaúde, o ato médico é soberano, tem muito de ciência,
mas também muito de arte, de interpretação de sintomas para acertar o
diagnóstico.
"Com essa
intervenção, a operadora zela pelo bem-estar do beneficiário. A ANS fixou
prazos e temos atendido às solicitações dentro desse limite", afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário